22 de julho de 2008


---------------------------------------------Adélia Prado

Sedução

A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia para eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.


Grande Desejo

Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o
----------------------------------------------[cachorro

e atiro os restos.
Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do meu estômago humilde
e fortíssima voz pra cântigos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele,vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
pra chorar, chorar e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.


Esses poemas de Adélia Prado estão no livro "Bagagem".

5 comentários:

Adauto Suannes disse...

Querida Juliana. Por onde andaste? Perguntei-me: que que eu fiz que ela nem poema publica mais? E você me vem logo com dus Adélias na mão! Também sou doidim por ela.

Juliana Meira disse...

poetAdauto!

às vezes o "tempoema" pede um tempo e eu aceito. reclamão, gosta de me ver com livros de direito sempre à mão! mas no fim das contas, a gente discute à toa.. poesia sim é que é coisa boa!

viva a poesia de Adélia Prado!!
grande abraço!

Cecília Borges disse...

esse é um dos meus livros de cabeceira e ela, adélia, a poetisa que mais me comove.
bonito encontrar palavras dela por aqui, ju!
um beijo!

Anônimo disse...

Oi, Jú....cmo q ta? Estou c saudade!!! Olha, adorei este poema...acho q toda mulher se identifica c ele...rsrsrs....bjinho

Juliana Meira disse...

Cecília
alegria te ver por aqui e saber que temos em comum o gosto pela poesia de Adélia Prado. beijo!

Denise
fico feliz com tua visita! Adélia Prado é uma das minhas poetas favoritas! bacana que gostou do poema. também sinto saudade de ti amiga querida !! beijo

22 de julho de 2008


---------------------------------------------Adélia Prado

Sedução

A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia para eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.


Grande Desejo

Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o
----------------------------------------------[cachorro

e atiro os restos.
Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do meu estômago humilde
e fortíssima voz pra cântigos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele,vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
pra chorar, chorar e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.


Esses poemas de Adélia Prado estão no livro "Bagagem".

5 comentários:

Adauto Suannes disse...

Querida Juliana. Por onde andaste? Perguntei-me: que que eu fiz que ela nem poema publica mais? E você me vem logo com dus Adélias na mão! Também sou doidim por ela.

Juliana Meira disse...

poetAdauto!

às vezes o "tempoema" pede um tempo e eu aceito. reclamão, gosta de me ver com livros de direito sempre à mão! mas no fim das contas, a gente discute à toa.. poesia sim é que é coisa boa!

viva a poesia de Adélia Prado!!
grande abraço!

Cecília Borges disse...

esse é um dos meus livros de cabeceira e ela, adélia, a poetisa que mais me comove.
bonito encontrar palavras dela por aqui, ju!
um beijo!

Anônimo disse...

Oi, Jú....cmo q ta? Estou c saudade!!! Olha, adorei este poema...acho q toda mulher se identifica c ele...rsrsrs....bjinho

Juliana Meira disse...

Cecília
alegria te ver por aqui e saber que temos em comum o gosto pela poesia de Adélia Prado. beijo!

Denise
fico feliz com tua visita! Adélia Prado é uma das minhas poetas favoritas! bacana que gostou do poema. também sinto saudade de ti amiga querida !! beijo