9 de maio de 2008

UMA ESTÁTUA NO SILÊNCIO
(Pablo Neruda)


Tanto ocorre no vozerio,
tantos sinos foram escutados
quando amavam ou descobriam
ou quando se condecoravam
que desconfiei da algazarra
e vim para viver a pé
nesta zona de silêncio.

Quando despenca uma ameixa,
quando um onda desmaia,
quando rondam meninas douradas
na molície da areia,
ou quando uma sucessão
de aves imensas me precede,
em minha calada exploração
não sonha nem uiva nem troveja,
não se sussurra nem murmura:
por isso me quedei vivendo
na música do silêncio.

O ar está mudo, todavia
os automóveis resvalam
sobre algodões invisíveis
e as multidões políticas
com ademanes enluvados
transcorrem em um hemisfério
onde não voa uma mosca.

As mulheres mais tagarelas
afogaram-se nos tanques
ou navegam como cisnes,
como as núvens no céu,
e vão os trens do verão
repletos de frutas e bocas
sem um apito nem uma roda
que range, como ciclones
encadeados ao silêncio.

Os meses são como cortinas,
como taciturnas alfombras:
bailam aqui as estações
até que dorme no salão
a estátua imóvel do inverno.


Esse poema foi traduzido pela poeta Olga Savary e está no livro "O Coração Amarelo". A fotografia é de João Veríssimo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Soberbo!
Beijo Juliana

Juliana Meira disse...

Henrique!
Pablo Neruda é demais mesmo!
obrigada por tua presença no tempoema
(=

9 de maio de 2008

UMA ESTÁTUA NO SILÊNCIO
(Pablo Neruda)


Tanto ocorre no vozerio,
tantos sinos foram escutados
quando amavam ou descobriam
ou quando se condecoravam
que desconfiei da algazarra
e vim para viver a pé
nesta zona de silêncio.

Quando despenca uma ameixa,
quando um onda desmaia,
quando rondam meninas douradas
na molície da areia,
ou quando uma sucessão
de aves imensas me precede,
em minha calada exploração
não sonha nem uiva nem troveja,
não se sussurra nem murmura:
por isso me quedei vivendo
na música do silêncio.

O ar está mudo, todavia
os automóveis resvalam
sobre algodões invisíveis
e as multidões políticas
com ademanes enluvados
transcorrem em um hemisfério
onde não voa uma mosca.

As mulheres mais tagarelas
afogaram-se nos tanques
ou navegam como cisnes,
como as núvens no céu,
e vão os trens do verão
repletos de frutas e bocas
sem um apito nem uma roda
que range, como ciclones
encadeados ao silêncio.

Os meses são como cortinas,
como taciturnas alfombras:
bailam aqui as estações
até que dorme no salão
a estátua imóvel do inverno.


Esse poema foi traduzido pela poeta Olga Savary e está no livro "O Coração Amarelo". A fotografia é de João Veríssimo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Soberbo!
Beijo Juliana

Juliana Meira disse...

Henrique!
Pablo Neruda é demais mesmo!
obrigada por tua presença no tempoema
(=